"Vejo dois erros possíveis, dos quais o menor é o de esquecer o entendimento, como fazem os Demócritos e todos os Lucrécios, e o pior, que é de esquecer o objecto, quer dizer o próprio conhecimento, como fazem os dialécticos."
("Alain, un sage dans la cité", de André Sernin)
Mas que dizer do objecto fora do nosso alcance que é a espécie de meditação da astronomia? Todo o esforço da ciência, nesse caso, não foi o de integrar os resultados da observação, ou melhor, da 'consideração' que é o que nos diz a etimologia, num sistema 'amigável' para o nosso cérebro?
Sem as outras ciências, ainda no limbo imemorial, não havia como tornar mais humana essa construção senão através da mitologia. Hoje libertámo-nos dos deuses, mas não de um tal começo. Faz falta a obscuridade de um Heráclito para nos compreendermos.
Alain considera o 'entendimento' (ou, modernamente, a inteligência) como necessário à apreensão do 'objecto' e, nisso, é um bom discípulo de Descartes, o filósofo que melhor compreendeu o dualismo. Mas Blondel, mais perto de nós, diz outra coisa: "Para apreender o seu objecto, o entendimento transforma-o na sua própria substância." ("Action"). Pela inteligência, compreendemo-nos, sobretudo, a nós mesmos.
Mas talvez isto não seja tão paradoxal como parece. Se o objecto foi aspirado por um abismo, como pode o sujeito permanecer a sua estrela polar?
Os 'dialécticos' não podem ser acusados de se terem deixado encantar pela sua língua.
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