terça-feira, 21 de junho de 2016

O CERCADO COMUM

Ancient Egypt Priest


"O primeiro sacerdote que, com essa ponta (da corda) na mão e tendo cercado um terreno, encontrou os vizinhos satisfeitos com os limites do seu cercado comum, foi o verdadeiro fundador do pensamento analítico e, a partir dele, do direito e da geometria."
"As origens da geometria" (Michel Serres)

O pequeno escravo do 'Ménon' que Sócrates desvia do seu trabalho para demonstrar que o espírito geométrico existe em todo o homem, independentemente do seu lugar na sociedade (Alain), sugerere-nos, ao mesmo tempo, uma insondável arqueologia do indivíduo.

Dos começos que só podem ser especulativos fica-nos a ideia de que não é o colectivo que desempenha o principal papel no nascimento do sujeito individual. Que a 'consciência', tal como a conhecemos, não poderia ter resultado de uma prática social orientada pelo instinto de sobrevivência.

Encontramos, isso sim, a instância do sagrado na origem de uma evolução que nunca mais parou. Michel Serres arrisca:"O direito precede a ciência e talvez lhe dê origem; ou melhor: junta-os numa origem comum,  abstracta e sagrada."

Por outras palavras, é o que é mais estranho à palavra comum e ao 'lado prático das coisas', é o 'idealismo' mais extremado, se quisermos, e que é inseparável da imaginação, que encontramos no início da grande caminhada. E talvez esse 'extremismo' fosse um dos requisitos da memória colectiva. Tal como, mais tarde, o monumento funerário.

Que a ciência, hoje, triunfante, tenha balbuciado assim só a torna mais humana e...falível.

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