quarta-feira, 1 de junho de 2016

O CASO DE SOLARIS



(Solaris)

"Todo o mecanismo concebível e posto na natureza é também uma propriedade do espírito."

(Paul Valéry, citado por Tatsuya Tagami)

Todo o mecanismo é uma ideia a que a natureza dá corpo, e isso é 'funcionar'. Vem à cabeça 'uma frase batida' atribuída a Engels ou por ele tornada célebre: 'a melhor prova da existência do pudim é comê-lo'. Com essa 'prova', o 'materialismo' estabeleceu uma superioridade definitiva sobre um outro dinossauro, a 'ideologia alemã', ou o vapor sublimado das cervejarias, isto é, a metafísica.

Este 'romance de costumes' no coração da Europa foi a grelha de leitura para metade do mundo, durante o século de Marx e até a outra prova definitiva que foi a implosão do estado soviético. O pudim foi comido, mas ficou sem se saber se era o verdadeiro pudim.

A frase 'idealista' de Valéry sugere-me o tema de 'Solaris', o filme de Andrey Tarkowski, considerado por alguns como o antípoda da obra-prima de Kubrick, '2001, Odisseia no Espaço'.

O planeta Solaris tem propriedades estranhas: sob a sua influência o passado torna-se presente e o presente passado; os mortos ressuscitam e retomam um diálogo nunca interrompido com os vivos. Que substância é a sua? Será ao menos 'real', pertence sequer ao mundo das coisas, o mundo 'material' de que julgamos fazerem parte os astros e as constelações?

Questões que um Spinoza moderno poderia ter equacionado a partir das suas águas-furtadas, dispensando a panóplia da ficção científica. Parece que Tarkowski teve de ceder à produção.

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