segunda-feira, 20 de junho de 2016

A RAZÃO TELESCÓPICA




"Na verdade, é contraditório ser infinito e ter limites, da mesma maneira que é contraditório ser infinito e ter uma proporção certa, isto é, determinada, em relação a alguma coisa finita. Consequentemente, nada do que é visível está separado de nós por uma distância infinita."
Johannes Kepler (1571/1630)

Em consequência, podíamos também dizer que o invisível que depende da impotência dos nossos telescópios é um falso infinito. Um salto nesta argumentação se afigura, então, irrespondível que é o de supor que todo o invisível obedece a essa mesma regra.

É o que a matemática faz unindo visível e invisível num mundo racional e calculável segundo a proporção humana.

Os nossos 'erros' foram assim projectados nas diversas cosmologias da história sem que pudesse verificar-se qualquer resistência factual. O cosmos foi o nosso caderno de exercícios geométricos. E quando Tales calculou a sombra da pirâmide com o auxílio do triângulo, aquela aprendizagem começou a revelar-se frutuosa. Através do método geométrico e do artifício algébrico (outra espécie de alavanca), construímos os andaimes da ciência que fizeram a maior das torres humanas.

A suposição de Kepler não previa qualquer lugar para a transcendência na 'máquina celeste'. Os instrumentos da visão permitiam todas as conquistas da razão proporcional. Isto, sem prejuízo, do grande astrónomo se inspirar em Deus e na harmonia pré-estabelecida.

O 'compreendo porque creio' confunde-se cada vez mais com o 'creio porque compreendo'.


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