"Multiplicam-se as discussões, como se tudo fosse incerto, e estas discussões são conduzidas com o maior entusiasmo, como se tudo fosse certo."
David Hume ("Tratado da Natureza Humana")
É bem verdade que só o entusiasmo é comunicativo e que é preciso acreditar, nem que seja no momento, para fornecer o combustível necessário a esse entusiasmo.
Assim, quando tudo devia ser incerto, nós erguemos edifícios para durar. No fundo, nadamos em várias correntes do tempo. As nossas casas e os nossos templos caem (ou estão a cair) inexoravelmente, e se as nossa pirâmides duram ainda é porque já têm a forma do monte de poeira.
Também as nossas certezas começam a esmaecer já no momento em que as afirmamos. O encontro dessas vulnerabilidades, num dado momento, dá-nos a ilusão da força.
"Não alcançam a vitória os soldados em pé de guerra, manejando a lança e a espada, mas sim os corneteiros, os tambores e os músicos do exército."
(Ibidem)
Hume, muito antes da política como espectáculo, falava do triunfo dos corneteiros.
Mas desde sempre foram os "músicos" que encantaram a espécie. Marchamos ao som dos tambores, como modelamos as nossas opiniões pela força da retórica.
Hoje, um SMS ou um 'tweet' coordena muito mais do que um tambor, e a televisão nem precisa de nos emocionar através de uma boa figura de estilo, pois basta o efeito de vermos as mesmas imagens e ouvirmos as mesmas palavras ao mesmo tempo para ficarmos "afinados".
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