quarta-feira, 5 de julho de 2017

LUZES DA CIDADE


Chaplin e Einstein na estreia de "Luzes da Cidade" (1931)


A linguagem de Chaplin vai direita ao coração. Não importa se o milionário suicida que encontra o melhor dos amigos no vagabundo, quando está ébrio e retome todas as distâncias de classe com a sobriedade ou uma pancada na cabeça, parece inverosímil. Não há ninguém assim e, no entanto, a imagem toca o fundo do problema.

O vagabundo, expulso pelo mordomo no dia seguinte, disputa a outro pedinte a perisca do charuto que um ricaço larga mais adiante, pegando no Rolls Royce que o outro lhe tinha oferecido sob a influência de Baco. Não podia ser mais cínico este episódio de luta pela sobrevivência, contra a ideia de um cineasta que exagera na corda do melodrama. Aliás, não faltam os momentos de autocrítica. Os arroubos apaixonados acabam sempre com um vaso na cabeça que um gato faz cair da janela.

E o final deste maravilhoso "City Lights"? A rapariga das flores que já consegue ver e tem agora uma loja de florista, graças ao dinheiro de quem ela pensava ser o seu príncipe encantado, reconhece pelo toque das mãos o vagabundo. A sua desilusão estampa-se-lhe no rosto, mas a gratidão e o dever comparecem, como sentinelas armadas nesse reconhecimento.

Sabemos que o romance nem por um segundo tem futuro. Mas Chaplin não quer arruinar no nosso espírito a ideia do anjo. Porque nessa situação, a queda é obrigatória. Assim, o filme acaba deixando-nos imaginar uma saída airosa para o anjo.

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