Madame de Lamballe (1749/1792)
"Via-se que entre os mercenários e os fanáticos se travava uma luta por causa dela. Um dos mais raivosos, um pequeno fabricante de perucas, Charlat, tambor nos voluntários, caminha para ela e arranca-lhe o barrete com o chuço; os seus belos cabelos desenrolam-se e caiem por todos os lados. A mão desastrada ou ébria que lhe fizera este ultraje tremia, e o chuço aflorara-lhe a fronte; Mme. de Lamballe sangrava. A vista do sangue produziu o seu habitual efeito; vários se lançaram sobre ela, um deles veio por trás e atirou-lhe uma acha; ela caiu e imediatamente foi trespassada várias vezes. Ainda mal respirava, por uma indigna curiosidade que foi talvez a causa principal da sua morte, os assistentes, julgando surpreender nela algum vergonhoso mistério que confirmava os rumores que haviam corrido. Arrancaram-lhe tudo, vestido e camisa; e nua, como veio ao mundo, foi estendida ao canto de um marco, à entrada da rua Saint-Antoine."
"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)
Depois de lhe cortarem o sexo e a cabeça, passearam-na pela cidade e levaram-na a uma das futuras vítimas (o duque de Orléans) e ao Templo onde o rei estava prisioneiro com a família. Esta cena é descrita por Grace na "Inglesa e o Duque", o filme de Rohmer.
Madame de Lamballe tinha o defeito de amar a detestada austríaca. Prejudicara-a muito que a rainha tivesse utilizado a sua casa para algumas reuniões secretas.
O massacre dos prisioneiros, de Setembro de 1792, perpetrado por umas dezenas de "fanáticos e de mercenários", com a mira de se locupletarem com os despojos, engrossou, talvez mais do que qualquer outra causa o número dos inimigos da Revolução.
Naquele momento só o partido mais extremista podia, avalizando os crimes, mostrar alguma espécie de poder. Nenhuma das grandes figuras políticas se arriscou a denunciá-los, fosse por medo, ou para não serem ultrapassados por outro mais violento.
A máquina do terror estava montada e só tinha lugar para um mecânico que, pelo seu carácter jesuítico e dissimulado, tanto como pela sua honestidade, fosse o cérebro dessa ferragem assassina.
Esse mecânico foi Robespierre.
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