quinta-feira, 27 de julho de 2017

A LÓGICA E A MÃO INVISÍVEL



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"Uma economia, no sentido restrito do termo, que pode designar um lar, uma quinta, uma empresa ou até a administração das finanças públicas, é efectivamente a organização ou o arranjo deliberado de um conjunto de recursos ao serviço de uma ordem unitária de fins.

(...) A ordem espontânea do mercado que resulta da interacção de numerosas economias desta ordem é algo de tão fundamentalmente diferente duma economia propriamente dita que temos de considerar como uma grande desgraça que as duas coisas tenham alguma vez utilizado o mesmo nome."
"Essais" (Friedrich Hayek)

Segundo Hayek, a causa principal da condenação do mercado pelos seus opositores reside precisamente em que "o seu carácter ordenado não dependa da sua orientação para uma hierarquia de fins e que, por esse facto, não assegurará, enquanto conjunto, que o mais importante passará antes do menos importante."

E acrescenta que é justamente essa característica, a de não existir "uma escala única de fins concretos" e tampouco uma "opinião particular sobre o que é o mais importante" no governo da sociedade que permite aos indivíduos "utilizar com sucesso o seu conhecimento individual para atingir os seus fins individuais."

Aqui é que bate o ponto.

Os que acreditam no poder da razão (e não são as realizações técnicas o maior propagandista desse poder?) não se conformam, se forem justos, com o que é socialmente aberrante, independentemente de se registarem avanços significativos quando se comparam as épocas (mas são esses avanços mesmos que revelam os anacronismos e as contradições).

Parece um insulto à humanidade que quando se vêem os males não se ataquem imediatamente os problemas e se confie nos resultados, na verdade impressionantes, duma ordem espontânea, tanto mais que, pelo mesmo princípio que leva a sobrestimar a capacidade racional de lidar com uma sociedade desenvolvida, como se fosse um sistema lógico, se atribui a certas forças sociais e económicas uma tendência contrária à do verdadeiro progresso. É por isso que a ordem espontânea se diz, de facto, uma relação de forças.

Ora, o que é realmente decisivo não é compreender um sistema, de qualquer modo, demasiado complexo para se poder correr o risco de se impor uma opinião sobre a sua essência e sobre o nosso futuro.

O que importa é mobilizar a inteligência do maior número possível, não para um fim único que não é possível estabelecer, mas para qualquer fim suficientemente motivado que respeite as regras da convivência e da justiça.

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