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"Segundo uma expressão na moda, inventada como para sublinhar a indiscrição do empreendimento filosófico, ela (a filosofia) é desvelamento. Como, então, tratar enquanto filósofo de uma noção que pertence à intimidade de centenas de milhares de crentes, o mistério dos mistérios da sua teologia e que, depois de quase vinte séculos, reúne os homens e as mulheres com quem partilho o destino e a maior parte das ideias, à excepção precisamente da crença de que é questão esta noite?"
Emmanuel Lévinas (numa conferência realizada em Paris, em Abril de 1968)
O facto das opiniões sobre a religião se dividirem de forma tão marcada, entre crentes e não crentes, é, sem dúvida, um fenómeno de redução da complexidade, como lhe chama Niklas Luhmann.
De facto, a nossa capacidade de crença é mobilizada a todos os instantes e horas e pelas mais insidiosas formas, sem disso nos apercebermos.
Cremos, porque o contrário disso seria, por exemplo, sermos mal educados, termos mau feitio ou ser do contra (o que é também uma crença).
O que mais impressiona no fenómeno da crença colectiva, tão íntima e tão misteriosa, como diz Lévinas, para ser dissecada como um preconceito ou uma ilusão, é a realidade transcendente que faz aparecer no mundo.
E são tão reais os sentimentos, os movimentos e as acções que inspira são tão concretos e efectivos que a história demasiado ingénua que às vezes está na origem do fenómeno é o que menos importa.
Pode-se até fazer fé em quem por natureza não pode ser responsável, nem merece credulidade.
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