quarta-feira, 12 de julho de 2017

O HOMEM QUE ACORDOU KANT

David Hume (1711/1776)


"Creio que a explicação reside largamente numa acusação que foi feita a Hume, com algum justiça, a saber que a sua filosofia era essencialmente negativa. O grande céptico, penetrado pela sua convicção de que a imperfeição de toda a razão e de todo o conhecimento humanos, não esperava nada de bom da organização política. Ele sabia que os grandes benefícios políticos, paz, liberdade e justiça, são por essência negativos, uma protecção contra os nossos erros, mais do que efectivos dons."
"Essais" (Friedrich Hayek)

Hayek comenta o pouco favor com que foram recebidas, no continente, as ideias de Hume, em comparação com as do seu hóspede de um momento, Rousseau.

Jean-Jacques era um poeta que sabia convencer não só a cabeça, mas também o coração. A ideia do bom selvagem, por exemplo, dava toda a força à crítica das leis e da tradição responsáveis pela corrupção dos homens. Era o estímulo necessário para a indignação moral e a nova religião da fraternidade. Esta filosofia parecia dizer: sejamos naturais e encontraremos a justiça e a concórdia.

Hume tinha outra ideia sobre a natureza humana e não desprezava as lições da experiência nem as da história dos povos. "Não era da bondade dos homens que ele esperava a paz, a liberdade e a justiça, mas de instituições que "punham no interesse de agir para o bem público mesmo os homens maus". Ele sabia que em política "todo o homem deve ser suspeito de ser um intrujão", se bem que, como acrescenta, "pareça um pouco estranho que uma máxima verdadeira em política seja falsa de facto".

Ora, o efeito do poder sobre mesmo o melhor dos homens é torná-lo digno da nossa suspeita, por estupidez, ambição ou, o que é ainda pior, por virtude (Saint-Just, um dos homens mais virtuosos da Convenção, distinguiu-se pela sua apologia do Terror).

Por isso, a filosofia negativa, ao impor limites que nenhum indivíduo ou organização podem ultrapassar preserva a liberdade de todos, poupando-nos os erros e as consequências da falta de consenso sobre as opiniões positivas.

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