segunda-feira, 9 de julho de 2007

O DEMÓNIO DA VULGARIDADE


Dream-City (Paul Klee)

"Começo pelo caos, é a maneira mais lógica e mais natural. Não me inquieto por isso, porque posso considerar-me, antes de mais nada, a mim próprio como um caos."

Paul Klee "La pensée créatrice" (citado por José Gil em "A Imagem-Nua e as Pequenas Percepções")


Nestas palavras, está talvez contido o segredo do divórcio característico dos tempos modernos entre a arte e o público em geral.

Quando o artista deixou de imitar a vida, levou a chave da tradução consigo. Porque acredito que o sentido dado ao caos na obra e em si próprio é ainda uma leitura do mundo, sugerida pelo jogo das formas.

"O artista "põe-se ao serviço" da obra, submete-se à sua lógica; mas esta tem necessidade da sua acção e do seu pensamento a fim de que o caos deixe de ser reduzido (ou apagado demasiado cedo): a fim de que a necessidade emane do próprio caos." (ibidem)

Crê-se aqui na imanência dum sentido como que oculto pelo caos e na influência demoníaca (o demónio da vulgaridade?) da precipitação.

O artista seria, assim, um desocultador e, na medida em que o fosse mais radicalmente, mais longe se encontraria dum público profano.

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