quarta-feira, 11 de julho de 2007

ATAR E DESATAR


Derrida em Istambul, em 1997


"A palavra grega analuein, é bem conhecido, significa desligar e portanto também dissolver o laço. Ela deixar-se-ia assim rigorosamente aproximar, senão traduzir, pelo solvere latino (separar, libertar, absolver ou desobrigar). A solutio e a resolutio têm ao mesmo tempo o sentido da dissolução, do laço solto, da separação, do descomprometimento ou da desobrigação (por exemplo, da dívida) e da solução do problema: explicação ou desvelamento. A solutio linguae, é também a língua solta."

"Résistances" (Jacques Derrida)

Derrida cita Giusti que cita Goethe sobre o significado da palavra análise, num livro dedicado às resistências da psicanálise.

Desde logo, há um nó que não pode ser desatado, de que Freud criou o conceito recorrendo à imagem do umbigo.

Mas porquê esta identificação da verdade como o processo de desatar um nó problemático?

Metáfora visual? O laço desatado pode ver-se em toda a sua extensão. Resolver o problema é então uma questão de óptica (a ética é uma óptica, diz Ricoeur). Desatar é ver como o nó se ata, o que é compreendê-lo como nó.

Ao trazer o que chama trauma à consciência, Freud na verdade cria o nó para desatá-lo, numa encenação da palavra através da análise.

Mas também reconhece que nunca basta desatá-lo intelectualmente. O factor afectivo joga um papel fundamental. Tão fundamental que se pode perguntar se, ele só, ao ser "convertido" não tornaria supérflua a própria análise.

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