terça-feira, 1 de maio de 2007

ECLIPSE



Steiner narra-nos a sua visita a casa de Lukacs, em Budapeste: "(...) quando tive de o deixar, vieram-me as lágrimas aos olhos; ele estava sob residência vigiada enquanto que eu ia voltar à segurança ou ao conforto de Princeton ou de outro lado qualquer. Devo ter dito qualquer coisa, e o desprezo que li no seu rosto era esmagador. "Você não compreendeu nada do que estivemos a falar. Neste sofá, dentro de vinte minutos, vai sentar-se Kadar." O ditador que o tinha colocado com residência vigiada. "É meu aluno. Trabalhamos frase a frase a Fenomenologia de Hegel. Você não compreende." De facto, eu não tinha compreendido. Este episódio bastou para me reeducar quanto ao bizarro mundo bizantino da intelectualidade marxista, da mistura de crueldade e de sério na qual operava."

"Entretien avec Ronald A. Sharp" (George Steiner)


Esta crueldade séria, nas palavras de Steiner. Séria quer dizer aqui necessária, sem sentimentalismo, que não se deixa inflectir por nenhuma espécie de romantismo, fosse ele o do herói, visto que o intelectual, neste caso, se desdobra no Sujeito hegeliano, presidindo ao desenrolar da lei histórica e no ente individual, cuja maior glória é compreender essa necessidade, mesmo quando nela desempenhe o papel de vítima.

É este o tema do célebre romance de Arthur Koestler, "O Zero e o Infinito" ("Darkness at noon").

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