segunda-feira, 30 de abril de 2007

CONTRA FACTOS HÁ SEMPRE ARGUMENTOS


Theodor Adorno (1903/1969)


"O poder magnético que sobre os homens exercem as ideologias, embora já se lhes tenham tornado decrépitas, explica-se, para lá da psicologia, pelo derrube objectivamente determinado da evidência lógica como tal. Chegou-se ao ponto em que a mentira soa a verdade, e a verdade como mentira. Cada expressão, cada notícia e cada pensamento estão preformados pelos centros da indústria cultural. O que não traz o vestígio familiar de tal preformação é, de antemão, indigno de crédito, e tanto mais quanto as instituições da opinião pública acompanham o que delas sai com mil dados factuais e com todas as provas de que a manipulação total pode dispor."

"Minima Moralia" (Theodor Adorno)


Adorno aponta o exemplo dos alemães sob o regime nazi. As autoridades sentiam-se tanto mais seguras, "quanto mais selvagens se tornavam as atrocidades. A sua escassa credibilidade tornou fácil não acreditar naquilo em que, por mor da desejada paz, não se queria acreditar, enquanto ao mesmo tempo se capitulava diante dos factos." (ibidem)

Infelizmente, essa capitulação invisível, que trazem o ar que respiramos e as imagens que nos cercam na calote mediática, não se cinge aos regimes execráveis, nem às ideologias.

Cada vez mais é preciso que emprestemos aos "factos" a força de convicção que tem de vir de nós.

Nada me persuade melhor dessa verdade do que ver como em qualquer reunião as pessoas só ouvem o que querem ouvir.

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