segunda-feira, 23 de abril de 2007

O POVO VAI PARA O CÉU


Camille Desmoulins (1760/1794)


"Acreditavam no povo, tiveram fé no instinto do povo. Puseram ao serviço desta fé, para a justificarem perante si mesmos, muito espírito, muito coração. Nada mais comovente, por exemplo, do que ver, nos cruzamentos do Odéon e da Comédie-Française, o encantador espírito, Camille Desmoulins, misturando-se com os pedreiros e os carpinteiros que filosofavam à noite, falando de teologia com eles, justamente como o teria feito Voltaire e, encantado com o seu espírito, exclamar: são atenienses!"

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


Esta passagem diz-nos muito sobre a teatralidade com que Michelet nos envolve nas suas descrições. Estamos a ver o fogoso redactor do "Le Vieux Cordelier" a debater com os pedreiros filosofia, como Simone Weil, mais de um século depois.

Mas vemos também a sugestiva poesia dos mitos. O da Antiguidade Clássica, das discussões na Ágora, de Sócrates convocando o jovem escravo, no "Menon", para demonstrar a ideia inata da geometria. E o do povo, criação do romantismo e, sobretudo, de Rousseau.

É esse o mito que está presente ainda em "A mãe", de Máximo Gorki, e em outras obras do realismo socialista.

A ideia de que só falta ao povo a ilustração e o tempo livre que a burguesia desperdiça para a libertação da Humanidade.

Porém, hoje, quando tanto a ilustração, massificada embora, e o tempo livre estão ao alcance do grande número, percebemos quanto as ilusões românticas eram isso mesmo: ilusões.

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