segunda-feira, 16 de abril de 2007

A ESPADA DE PAULO


San Paolo fuori le mura, Roma (José Ames)

"Não é só que Paulo de Tarso seja, muito provavelmente, o adido de imprensa e o virtuoso de relações públicas mais capaz de que temos memória, ele foi também, muito simplesmente, um dos muito grandes escritores da tradição ocidental. As suas epístolas contam-se no número de obras-primas duráveis da retórica, da alegoria estratégica, do paradoxo e da "peine cuisante" de toda a literatura. O simples facto de S. Paulo citar Eurípides atesta um "bookman", um homem do livro quase nos antípodas do Nazareno que ele metamorfoseia em Cristo. São muito raras na história as figuras - pensa-se em Marx, em Lenine - que tenham rivalizado com a soberania pauliniana em matéria de propaganda, no sentido instrumental e etimológico de propagação didáctica, ou com a sua intuição de que os textos escritos transformariam a condição humana."

"Les logocrates" (George Steiner)


Pensar que sem um intérprete com o génio de Paulo, o movimento cristão teria provavelmente ficado por uma grande oportunidade perdida, reduzido às dimensões de uma das muitas seitas que apareceram na região!

À entrada da sua basílica, em Roma, é a espada e a fronte carregada que nos impressiona na sua estátua. O paradoxo de uma religião do amor que se revê nesta "terribilità", neste zelo de separar, através de um sinal, os homens uns dos outros, está na origem da tradição guerreira de alguns papas, como Júlio II, que nem por um momento duvidaram de que a paz não é nunca um dado.

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