quinta-feira, 26 de abril de 2007

A CRÍTICA DO BISPO


George Berkeley (1685/1753)


"Se levantarmos o véu e olharmos por baixo (...), devemos descobrir muito vazio, escuridão e confusão, ou melhor, se não me engano, impossibilidades e contradições óbvias (...). Não são nem quantidades finitas, nem quantidades infinitamente pequenas, nem sequer nada. Não poderemos chamar-lhes fantasmas de quantidades desaparecidas?"

(Bishop Berkeley, "The Analyst", citado por Charles Seif ,"Zero - Biografia de uma Ideia Perigosa")


Berkeley foi para mim, durante muito tempo, o próprio símbolo de um idealismo "sem os pés assentes na terra". De um "o Mundo é o meu sonho", como diz Karl Popper.

Mas o famoso bispo de Cloyne reclamava-se apenas do mais estrito senso comum, mesmo quando impugnava a realidade de alguns conceitos de Newton. O que ele dizia era que esses conceitos eram apenas nomes a que não correspondia nada que pudesse ser provado, como é o caso da ideia de força.

E nisso parece que foi profeta, porque o grau de certeza a que ciência hoje pode chegar é simplesmente conjectural. É claro que isto é mais do que aquilo que George Berkerley estaria disposto a conceder.

A citação vem a propósito dos entorses à matemática que alguns cientistas no seu tempo se viram obrigados a fazer por causa do zero (um número indigesto para a herança greco-cristã). Os cálculos de Newton funcionavam bem, e funcionaram durante os séculos seguintes, mas havia uma anomalia, e, em nome do rigor, Berkeley tinha razão.

Não importa que estivesse convencido de que só Deus podia explicar os segredos da Natureza, crença que impede qualquer progresso, mas que, sem embargo, pode, esplendidamente, motivar a crítica do conhecimento, como se viu no caso, redundando, assim, no sucesso de teorias "com os pés assentes na terra".

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