domingo, 1 de abril de 2007

A CULTURA DO CAFÉ


A Galeria de Milão


"Deixe-me dizer as coisas de outra maneira. De Portugal, a Oeste, a S. Petersburgo, você tem cafés, sítios onde pode ir de manhã, pedir um café ou uma taça de vinho, passar o dia a ler os jornais do mundo inteiro, a jogar xadrez, a escrever. A bibliografia dos livros escritos em cafés é magnífica. Há pessoas que sempre preferiram trabalhar assim. Não há nada de parecido em Moscovo, que é uma cidade na fronteira da Ásia. A linha de demarcação é nítida: Odessa é mais ou menos o limite dos cafés."

Georges Steiner (entrevista de Ronald Sharp)


Sim. Mas que diferença entre os ambientes já capturados pelos ritmos de vida mais frenéticos e pela massificação do gosto e os que se deixaram "ultrapassar" pela moda!

Se, no Porto, existe ainda a cultura do café, sala de leitura, de escrita ou de convívio, já Lisboa quase abandonou essa tradição a que, sintomaticamente, erigiu uma espécie de monumento que é o "Martinho da Arcada", graças ao prestígio do poeta que ali era presença assídua, e que hoje, sem dúvida, por causa do mau hábito de demorar após o consumo, seria mal tolerado pela gerência.

Os costumes mudaram e o negócio acompanha os tempos.

Steiner, que tanto aprecia ler o jornal na famosa galeria de Milão (com o bilhete para o La Scala no bolso) abominaria, por certo, que para desfrutar da barulhenta esplanada de algum dos nossos shoppings, tivesse ainda que atravessar todo um cafarnaum comercial.

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