quinta-feira, 24 de maio de 2007

O OLHAR INTERIOR


Paul Cézanne, "Les Grandes Baigneuses"

"(..) o olho vê o mundo, tanto o que falta ao mundo para ser quadro, como o que falta ao quadro para ser quadro."

"L' Oeil et l' Esprit" de Merleau-Ponty, citado por José Gil ("A imagem-nua e as pequenas percepções")

"A pintura desperta, leva à sua última potência um delírio que é a própria visão, uma vez que ver é ter à distância, e que a pintura estende essa possessão bizarra a todos os aspectos do Ser." (ibidem)


Ter à distância é o movimento que constitui o objecto. Mas Merleau-Ponty fala em possessão.

Alguma coisa passa a ser nossa pelo facto de a vermos, e isso só se entende porque é o nosso próprio corpo que se projecta no que vemos, e é esse o delírio.

A pintura seria a tomada de consciência dessa visão irredutível ao mundo.

Mas quando, a partir de Cézanne, falta cada vez mais ao mundo para ser quadro, por haver um deslocamento do que está por detrás da aparência (o "invisível" que está diante de nós) no sentido contrário ao dos sentidos, o "quadro que falta ao quadro" é uma pura convenção. Uma cifra.

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