quinta-feira, 31 de maio de 2007

DO VÍCIO DOS GOVERNOS


Jean-Jacques Rousseau


"Tal como a vontade particular age incessantemente contra a vontade geral, assim o governo faz um contínuo esforço contra a soberania. Quanto mais este esforço aumenta, mais a constituição se altera; (...) É o vício inerente e inevitável que, desde o nascimento do corpo político, tende, sem interrupção para o destruir, tal como a velhice e a morte acabam sempre por derrubar o corpo humano."

"Do Contrato Social" (Jean-Jacques Rousseau)


Rousseau é, sem dúvida, uma das grandes fontes do radicalismo político, tal como na primeira metade do século passado, em França, influenciou o pensamento de homens como Émile Chartier.

Embora o autor do "Contrato" não estivesse a pensar num governo eleito democraticamente de quatro em quatro anos, cujas eventuais tendências para a opressão não podem durar mais do que aquele tempo, sujeitando-se depois à sanção eleitoral, o princípio por ele estabelecido, fundado no estudo da história e da natureza humana, nem por isso é menos verdadeiro.

Todos podemos ter a experiência de como os cargos e o exercício do poder, a qualquer nível, e seja no estado ou nas empresas, modificam os homens.

Daí que a desconfiança e a circunspecção do juízo sejam as atitudes mais saudáveis em relação a todo o governo, qualquer que ele seja.

As coisas são como são, e os homens que não querem dar um rosto ao que os antigos chamavam a necessidade e à coacção de medidas que não podem agradar a todos (mas que precisam de ser aceites e compreendidas), perdendo nesse papel um pouco da sua humanidade, simplesmente não devem entregar-se à política.

Mas esse preço a pagar, nunca é o que a ambição vê em primeiro lugar.

0 comentários: