quinta-feira, 17 de maio de 2007

A INTELIGÊNCIA DO SNOBISMO


Marcel Proust, À la recherche du temps perdu. Du côté de chez Swann
95 placards corrigés, Typographie Colin, Mayenne
31 mars - 11 juin 1913, 51 x 36 cm
BNF, Manuscrits, N. a. fr. 16753, f. 48 vo-49


"Era precisamente essa incomodidade que me dava a coragem de falar a Robert; a presença dos outros era para mim um pretexto que me autorizava a dar às minhas palavras um tom breve e descosido, graças ao qual podia facilmente dissimular a mentira de dizer ao meu amigo que eu tinha esquecido o seu parentesco com a Duquesa e para não lhe dar tempo de me questionar sobre os meus motivos (...)"

"Le côté de Guermantes" (Marcel Proust)


Marcel deseja ardentemente ser apresentado à Duquesa, prima de Robert Saint-Loup. Mas como nos acontece tantas vezes, temia que esse desejo proporcionasse ao seu amigo uma visão pouco lisonjeira sobre si próprio.

Ora, se com esse estratagema, impediu Robert de lhe fazer perguntas naquele momento, não deixou de semear a dúvida no seu espírito, que, sem dúvida se debruçará, mais tarde, sobre essa incongruência de carácter.

Digamos que a situação (os amigos à espera que se juntassem a eles à mesa do restaurante) sugeriu uma solução ao nível da táctica e que a própria felicidade dessa solução impediu Marcel de ver um pouco mais longe.

O snobismo, evidentemente, é o que trai este movimento em falso.

Mas essa paixão de penetrar um dos meios mais fechados da sociedade, convertida em escrita, deu-nos a obra-prima absoluta sobre a vaidade humana.

E não é, precisamente, o tempo a verdadeira medida da vaidade?

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