quinta-feira, 29 de março de 2012

SERMÕES



"Beati pauperes spiritu"


(Primeira das bem-aventuranças evangélicas citada por São Mateus no capítulo V, versículo 3, e que inicia o Sermão da Montanha.)


Com a crítica marxista a "explorar o terreno", estamos sempre a tropeçar no óbvio. A bem-aventurança dos simples é para a outra vida, a dos astutos pode ser para esta. Parece mesmo haver uma regra de compensação entre os dois mundos.

Na verdade, os "os pobres de espírito" não precisam de esperar em futuros tesouros. Contentam-se com o que têm e do pouco fazem muito. Felizes, portanto, se os deixarem em paz.

Ora, aí é que está o problema. Eles não estão conscientes de todos os seus direitos e, por isso, nem pensam neles. Que espécie de cidadãos se fará com esta massa? Os "simples" parecem estar já às portas do Paraíso, sem que tenham feito nada para isso. Os outros podem despender as forças e ter todo o mérito, mas eles foram bafejados pela graça.

Só porque são pobres em espírito não precisam de fazer parte da cidade. Os problemas dos outros não são os seus problemas.

Esta "simplicidade" é já, talvez, o reino dos Céus. Mateus tem por isso razão, "beati sunt".

O paradoxo é que aqui a verdadeira fé pareça estar do lado do que quer salvar, tirando-os do seu sossego, aqueles a quem o evangelista chama de "pobres de espírito".

O Sermão aboliu o tempo. A beatitude dos simples, dum certo modo, é já. O profeta do Manifesto não fala doutra coisa senão do tempo (que há-de vir).

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