quinta-feira, 15 de março de 2012

A LUA AMARELA

Anna Akhmatova (1924)



"Tranquilo corre o rio Don
Uma  lua amarela e  quieta
Mostra a sua elegância
Com a boina de lado
Ela vê através da janela uma sombra de ti
Gravemente doente e só 
A lua vê uma mulher deitada em casa, 
O filho na prisão, o marido morto
Reza por ela uma prece, em vez disso."


(Anna Akhmatova, tradução minha do inglês)



Como no teatro, o silêncio alarga o espaço para a acção, para as palavras que contam.

O drama desta mulher sobe até ao céu. Mas o efeito não é o de se perder a intensidade da dor humana na vastidão do espaço. O grande rio parece  andar mais devagar e a quimérica lua  suspende a sua dança para escutar o gemido dela.

Akhmatova não foi uma das "almas mortas" da literatura soviética de que falou Cholokov no XX Congresso. Mas foram raros os escritores que se salvaram dessa aliança com o poder.

0 comentários: