terça-feira, 20 de março de 2012

O NILO




"Em crescimento, o Nilo transborda e inunda os campos em redor. Sacerdotes ou peritos, sábios ou agrimensores, aqueles que ele denomina os harpedonaptas, redistribuem aos camponeses ou aos proprietários as parcelas cuja inundação acabou de apagar os limites."

(Heródoto, citado por Michel Serres in "As origens da geometria")



Os 'puxadores de corda' (harpedonaptas) repõem a ordem que a inundação apagou. Que bela imagem do direito!

Em todo o lado, a lei escrita ambicionará este consenso do que é claro e racional. A medida, os registos e a autoridade indiscutível dos que recriam o mundo.

O Nilo é, talvez, o primeiro grande reformador. O culto das terras, os negócios, a discórdia que eles trazem, toda essa "escrita" sobre a terra, tudo é lavado e levado, periodicamente.

Mas a ideia permite o ciclo eterno em que todas as coisas regressam. Percebe-se que este regresso é também uma regeneração moral.

Também a vida nos "inunda", e a nossa bagagem parece flutuar à nossa volta. A que "agrimensores", ou "puxadores de corda", pediremos então a reposição da ordem?

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