sexta-feira, 23 de setembro de 2011

VOX CLAMANTIS IN DESERTO

by Andrea Costakazawa


"E o que tem graça é fundar-se nos elogios que dão os religiosos de uma religião e cidade aos seus correligionários, como se estes houvessem dizer mal uns dos outros, principalmente quando compõem para exaltar a religião 'como fazem expressamente os nossos e, entre eles, o jesuíta Franco que só conta maravilhas e milagres dos seus'".

(Verney, carta de 1/1/1753)




Nem os correligionários, nem os indiferentes. Dizer mal de tudo pode ser um desporto nacional, mas ainda assim precisamos de alguém de quem dizer mal de tudo nos aproxime. O grupo predispõe a uma espécie de crítica superficial e inútil para qualquer fim que não seja o reforço do próprio grupo.

Mesmo quando nos esforçamos por ser justos e imparciais raramente nos dispomos a fazer nosso o ponto de vista do outro, nem que seja em tese, para o podermos compreender.

Quanto mais reconfortante não é blindarmos a nossa razão com as paredes do colectivo e termos, assim, preto no branco, o sinal de que são os outros que são facciosos!

Tire-se, porém, o cimento social e a própria razão da crítica se perde. Os que já não querem saber da política, por exemplo, também não sabem dizer mal.

Quem quiser ouvir a verdade deverá procurar o homem sem família e sem amigos, nem correligionários...

Por isso se diz desse homem que é "a voz que clama no deserto".

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