sábado, 17 de setembro de 2011

O PASSADO




“O passado é o real ao nosso nível, mas não está de modo algum ao nosso alcance, na direcção dele não podemos dar sequer um passo, na direcção dele só podemos orientar-nos de modo a que uma sua emanação venha a nós. Por isso, o passado é a melhor imagem das realidades eternas, sobrenaturais. ( A alegria, a beleza da recordação talvez venha daí.) Proust entreviu isso.”

Simone Weil (“A Fonte Grega”)



Águas passadas, tempos idos, memória perdida. Como é que isso pode ser real? Todos nós, se já não perdemos contacto com o mundo, fazemos essa pergunta do bárbaro diante da mística pitagórica. Mística, sim. Como viu Simone Weil, as relações matemáticas que explicavam o mundo aos olhos da seita mais culta que o mundo conheceu, eram a verdade revelada.

Se nós somos reais e não seres de fantasia, somos a prova de que o passado "não passou". Além disso estamos tão perto de abandonar o tempo do "aqui e agora", o tempo biológico e o tempo dos transportes terrestres e aéreos, para mudarmos, sem armas nem bagagens, para o tempo real das transmissões electromagnéticas e da velocidade da luz, num mundo em que não temos de estar presentes num tempo ou num lugar específico, que o passado não só não passou como pode estar à nossa frente...

0 comentários: