quinta-feira, 8 de setembro de 2011

OS AMANHÃS NÃO CANTAM MAIS




“A sua opinião era a de que nos encontramos embarcados hoje com toda a humanidade numa espécie de expedição, e o orgulho exige de nós que respondamos ‘ainda não’ a toda a questão inútil e que conduzamos a nossa vida segundo princípios ‘ad interim’ permanecendo ao mesmo tempo confiantes num fim que os que vierem depois de nós hão-de atingir.”


“O Homem Sem Qualidades” (Robert Musil)



Será coisa do passado essa confiança indefectível no futuro? De qualquer modo, era ela que animava os apóstolos de todas as revoluções modernas, incluindo a americana que, como diz Arendt, foi a única que vingou.

Já passámos, entretanto, por momentos de grande desespero, culminando no gerado pela segunda guerra mundial e pelo totalitarismo, o qual pela sua absoluta desumanidade parece dar razão a Paul Célan que já não via como seria possível escrever poesia depois disso.

A ideia do progresso desde então é só para crentes, e a esperança que, apesar de tudo, nos faz viver é contra todas as provas.

E é assim que deve ser, porque toda a ideologia é estreita e ainda não nasceu o último profeta.

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