sábado, 3 de setembro de 2011

FUSÃO E DISTÂNCIA

 


“Podemos agora responder à questão que levantava Cícero, quando escrevia:’ É difícil explicar por que os objectos pelos quais a nossa sensibilidade é o mais agradavelmente afectada e que, à primeira vista, exercem sobre ela a impressão mais profunda,  são igualmente aqueles que, mais rapidamente, provocam uma espécie de desgosto e de saciedade que nos afasta deles’. Resposta: porque a proximidade corporal impede de se ser si-próprio, de negociar uma distância quando ela não existe, porque o corporal que é invadido é muitas vezes aquele que engendra as paixões mais fortes, tanto negativas como positivas.”

“Principia Rhetorica”   (Michel Meyer)




A fusão, ideal wagneriano do amor, só pode durar o tempo dum elixir. Para existir, depois disso, qualquer coisa de parecido com a felicidade ou o simples bem-estar, cada um tem de regressar ao seu próprio ser, com um mínimo de distância. Essa distância, claro, corre o risco, por sua vez, de ser invadida pelo mundo, o nosso e o outro.

O que é que impedia Cícero de compreender a situação? Ele conhecia, no entanto, a realidade das paixões e a necessidade de lhes pôr o freio platónico. E o que é a justa medida horaciana senão a consciência de que o mesmo objecto nos pode trazer benefício ou miséria consoante a nossa atitude?

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