domingo, 6 de fevereiro de 2011

DIALÉCTICA DO DESCONTÍNUO


Panem et Circenses (http://farm3.static.flickr.com)



“Ora, nada é menos raro, na história e na sociologia, do que as relações dialécticas entre os interesses e alternativas que não são talhadas à medida por eles, mas são descontínuas ou heterogéneas.”

“Le pain et le cirque” (Paul Veyne)



Os interesses decidiriam tudo se pudéssemos sempre agir racionalmente (foi o erro da teoria dos jogos aplicada à economia). Podemos, é verdade, escolher o menor dos males, mas isso já não é agir e sim sofrer o estado do mundo ou as consequências imprevisíveis dos nossos movimentos. Por isso, a misantropia tem as vistas curtas. Atribui ao homem uma liberdade que ele não tem.

Se Sócrates dizia que nenhum homem é mau voluntariamente, não estava a ser ingénuo nem benevolente, mas a tirar as devidas conclusões do facto de só agirmos independentemente do mundo e dos outros na nossa cabeça. Queria dizer também, evidentemente, que ninguém escolhe o mal para si próprio, se tiver consciência disso. A maldade recai sempre sobre nós mesmos se pudermos pensar todas as relações. Nem a culpa judeo-cristã nos faz querer o mal por si mesmo, pois, como expiação, é sempre em vista do bem.

Alain chama a atenção para o significado da palavra “méchant” (mau) que vem de “mal-échoir” (cair mal). Quando caímos somos um grave como todos os outros, sofremos a força e a acção só pode ser uma miragem.

Bastaria ter isto em conta para saber que a economia tem muito de magia e que noções como a de sistema económico são aproximações encantatórias.

0 comentários: