terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

DES-ASTRO

Maurice Blanchot (1907/2003)


“Trata-se de pensar a heteronomia do Outro no Mesmo, onde o Outro não subjuga o Mesmo, mas o desperta e desembriaga num desembriagamento que é um pensamento mais pensante do que o pensamento do Mesmo, num despertar que inquieta o repouso astronómico do mundo. É este pensamento da inquietude como relação que, sem dúvida estranho a qualquer preocupação teológica, Maurice Blanchot exprimiu escrevendo: 'Nós pressentimos que o desastre é o pensamento.' Onde é preciso compreender o desastre como des-astre (o): não estar no mundo sob os astros.”


“Dieu, la Mort et le Temps”  (Emmanuel Lévinas)



Inquietos por causa da luz própria, que não nos parece a dos astros até estarmos muito avançados no “desembriagamento”: estamos demasiado cheios de nós (pronome e substantivo, porque é preciso transcender e desatar).

Mas a outra conotação do desastre alerta-nos para o fracasso trágico que é “falhar a própria morte” (preocupação confessada de Simone Weil), isto é, de a vivermos como o Mesmo, excluído de qualquer heteronomia ou transcendência.

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