quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

BECO-SEM-SAÍDA

Atenas



“O remédio pré-metafísico que (os Gregos) encontraram para esta fragilidade (dos assuntos humanos, ‘ta anthrõpina pragmata’) foi a invenção da polis, concebida como um lugar estável onde fosse possível partilhar e registar (memorialize) feitos e palavras publicamente. Dito de outro modo, a vida política, sob a forma especificamente grega de isonomia, foi instituída com respeito a um comum horizonte de aparências, dentro do qual o estar-juntos de praxis e lexis podiam ser mantidos em segurança e florescer, estar-juntos dentro do qual se podia localizar a emergência de sentido para além das necessidades da vida e para lá da utilidade.”


“The Thracian Maid and the Professional Thinker” (Jacques Taminiaux)




Criar um mundo que perdure, para além da morte individual, parece ser, de facto, uma necessidade básica dos humanos e, em primeiro lugar, da função de pensar. Sem uma língua e sem uma cultura, decerto, não poderíamos pensar e ambas transcendem o indivíduo e exigem uma dimensão temporal que não é a do nosso quotidiano. Esse meio é tão vital quanto as condições físicas do nosso habitat.

No caso da cidade criada pelos Gregos só se pode falar dum “para”, duma finalidade consciente, com alguma liberdade filosófica, porquanto ela não é uma criação individual, nem um objecto “fabricado” para ter um fim consciente.

Se parece ter uma lógica a posteriori, tal como na natureza darwiniana, não se pode deve deduzir dessa lógica a inteligência dum criador, mas compreender como é que a forma da polis pôde adaptar-se e perdurar, ao contrário de outras experiências do “estar-juntos”.

A mesma ideia pode aplicar-se ao mundo de hoje, e ao domínio do trabalho em particular, o qual, cada vez mais, se aproxima da fórmula do viver sem amanhã.

Se pudéssemos estar à frente dessa lógica por pouco que fosse, perceberíamos que entrámos numa experiência que não pode vingar. Mas só nos museus de amanhã poderemos ver os seus lamentáveis abortos.

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