terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"ANEU LOGOU"

(http://www.life.com)



“(…) Aristóteles apenas formulou a opinião corrente da polis acerca do homem e do modo de vida político, e de acordo com esta opinião, toda a gente fora da polis – escravos e bárbaros – era aneu logou, privada, naturalmente, não da faculdade da palavra, mas dum modo de vida em que a palavra e somente ela fazia sentido e onde a principal preocupação dos cidadãos era a de conversarem uns com os outros.”


“A Condição Humana” (Hannah Arendt)


Segundo Arendt, a acção e a palavra eram consideradas do mesmo nível e da mesma espécie e isto significava que “tanto quanto (a acção política) permanece fora da esfera da violência, é de facto transaccionada por palavras, mas mais fundamentalmente que encontrar as palavras certas no momento certo, independentemente da informação ou comunicação que possam veicular, é acção.” (ibidem)

Custa-nos, é verdade, transpor esta ideia para os modernos hemiciclos, depois da modificação neles operada pela organização partidária, porque se é verdade que o mais importante dos debates não pode ser considerado informação ou comunicação, parece que a eficácia do discurso é igualmente independente da coisa pública.


Que a palavra, entendida como praxis política, é incompatível com a tirania e o autoritarismo é ilustrado pelos recentes acontecimentos no mundo árabe. Logo que os telemóveis, a internet e as redes sociais abriram um novo espaço de palavra independente do espaço policiado, a acção política fez a sua aparição, com os resultados que estão à vista.


Mas algo se deve passar com as nossas democracias para, em quase ideais condições, a interacção plural não resultar em acção política, ou, então, será o caso do inter-jogo dos poderes ter, de facto, deixado de existir. A tese de Arendt não daria, assim, conta dos efeitos não políticos da interacção.


Seríamos demasiado ingénuos se esperássemos da revolta árabe um progresso político baseado na “interacção linguística e plural”.


Um sintoma de anomalia é o êxodo de tunisinos para a ilha de Lampedusa. Esses parecem não acreditar grandemente no futuro político do seu país…

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