sábado, 17 de maio de 2008

OS FOLHETINS


Walter Benjamin (1892/1940)


"Devido a esta nova situação - a redução do custo das assinaturas -, o jornal tem de viver dos anúncios...; para conseguir muitos anúncios, o quarto de página dedicado à publicidade precisava de ser visto pelo maior número possível de assinantes. Era preciso um isco que se dirigisse a todos, sem se preocupar com opiniões pessoais, e cujo valor era o de colocar a curiosidade no lugar da política... Uma vez garantido o ponto de partida, a assinatura por 40 francos, através do anúncio, chegava-se quase necessariamente ao romance em folhetim."

"Charles Baudelaire" (Walter Benjamim)


Esta evolução na imprensa parisiense de meados do século XIX, que mobilizou escritores como Alexandre Dumas e Eugène de Sue, é um bom exemplo daquilo a que hoje chamamos de despolitização.

A necessidade económica, e não os desígnios de qualquer comité secreto da burguesia, estava, como se vê, na sua origem.

O papel crescente da publicidade no financiamento dos jornais mudou-lhes o carácter. O folhetim tornou-se mais importante do que a política ou a linha editorial. Vemos hoje, com a televisão, onde tudo isso levava.

Poderíamos dizer que a função de informar e de formar a opinião pública não se paga a si própria e que quanto mais dispendiosos forem os meios para levar a cabo essa missão mais aquilo que se diz é condicionado e desvirtuado pelas "condições de produção".

A Internet permite-nos, talvez, esperar uma mudança nessa situação.

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