segunda-feira, 26 de maio de 2008

MEGALOMANIAS


Joseph Goebbels (1897/1945)


"Certamente que os ditadores totalitários não embarcam conscientemente na estrada da loucura. O ponto é antes que o nosso espanto em relação ao carácter anti-utilitário da estrutura do estado totalitário nasce da noção errada de que estamos, apesar de tudo, a lidar com um estado normal - uma burocracia, uma tirania, uma ditadura - devida a minimizarmos as enfáticas declarações dos governantes totalitários de que consideram o país onde conseguiram tomar o poder apenas o temporário quartel-general do movimento internacional na estrada para a conquista do mundo, de que julgam vitórias e derrotas em termos de séculos e de milénios, e de que os interesses globais preponderam sempre sobre os interesses locais do seu próprio território."

"Totalitarianism" (Hannah Arendt)


Esta concepção do estado totalitário como ligado à dominação do mundo era justificado, em Hannah Arendt, pelos exemplos do nazismo e do stalinismo que, como se sabe, não dependiam de qualquer mecanismo de controle eleitoral que os obrigasse a um mínimo de realismo.

Mas, como diz a filósofa, o facto de certas decisões (como a da prioridade da "questão judaica" sobre quaisquer objectivos militares) parecerem contraproducentes em termos de estratégia, na verdade, podiam integrar-se perfeitamente numa lógica milenarista.

Quando Goebbels diz no seu diário que qualquer que seja o resultado da guerra, os judeus ficarão sempre a perder, pensa que um mundo "desjudaizado" é condição fundamental para o advento do "novo homem". Como simetria, a "deskulakização" só peca por defeito.

Qualquer que seja o significado moral desta doutrina, podíamos incluí-la no catálogo geral das megalomanias. Dispor do futuro como se fosse uma realidade pensável e controlável é a loucura que está por detrás disso.

Sobre o conceito de estado totalitário, valia a pena estudar a sua evolução, principalmente desde a queda daqueles dois regimes.

Há uma tendência para o ligar ao ambiente descrito por Kafka, o qual pode perfeitamente passar sem um governante megalómano.

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