terça-feira, 6 de maio de 2008

CHAMAS INTERMITENTES


Ulisses e Hermes no Hades


"Então julguei lembrar-me de que um pouco depois da sua morte, a minha avó me tinha dito soluçando, com o ar humilde duma velha criada despedida, como uma estrangeira: "Vais permitir-me ver-te algumas vezes de qualquer modo, não me deixes muitos anos sem me visitar. Pensa que foste o meu neto e que as avós não esquecem."

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


Como este sonho retrata bem a situação dos mortos perante aqueles que os amaram em vida!

Eles são como os suplicantes da tragédia antiga, as sombras convocadas por Ulisses no Hades, junto da poça de sangue.

A sua existência bruxuleante depende da chama acesa no coração dos vivos.

Quanto mais verdadeira é esta humildade, esta tristeza da serviçal que perdeu todos os direitos, e que mesmo se andou connosco ao colo sabe o preço dum pensamento dedicado ao que já não é, e como depende tão inteiramente, nessa breve aparição, do amor, da boa vontade, desviados do mundo actual, do que o fantasma em armas que vem exigir a vingança ao príncipe da Dinamarca!

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