"Há no acto um pessimismo grandioso em relação às palavras."
(Diotima, em "O Homem Sem Qualidades", de Robert Musil)
E se este pessimismo resultasse, não de uma inflação do valor das palavras, mais notória hoje ainda do que no tempo do império Austro-Húngaro, da Cacolândia de Musil, quando a 'publicidade', em todas as suas formas, constrói um mundo paralelo numa linguagem destituída de sentido, mas se, em vez disso, ele fosse a consequência de uma desqualificação da linguagem mesma? Uma espécie de cultura do anti-Verbo, um culto do anti-Livro?
Os novos intelectuais distinguir-se-iam, assim, pela sua função orgânica (à maneira de Gramsci) de nomearem os mil nomes dos actos 'espontâneos' num sistema auto-regulado, como na distopia das 'forças do mercado' e do capitalismo ao serviço da 'liberdade do indivíduo'.
A desvalorização da política vai a par da completa sujeição do social à economia, ampliando o domínio da esfera privada, como no tempo dos senhores e dos escravos. Escravos contentes com a sua sorte e bem tratados, havia-os também nesse tempo. Basta pensar nas cenas de domesticidade no teatro de Tchekov (no "Cerejal", por exemplo). Servos como esses votaram contra a democracia, está bom de ver.
Diotima, com o seu salão de elite, é da espécie do 'intelectual orgânico'. O seu alegado pessimismo não é mais do que a rendição do espírito. O 'pecado capital' diz a tradição cristã.
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