segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O IMORALISTA

 

"Quer dizer, ou me atrai um extremo, ou me atrai o outro, num balanço em que sinto que a minha fatalidade se cumpre. Porque hei-de imitar-me facticiamente a mim próprio, para formar a factícia unidade da minha vida? Só no movimento posso achar equilíbrio."

(André Gide)


Esta ambiguidade moral é cada vez mais a nossa. É o apogeu da cultura individualista. Por que teríamos de escolher em função de um princípio exterior a nós mesmos? O alfa e o ómega do indivíduo está todo nesta liberdade de não ter obrigações em relação à sua 'persona'. Em vez de procurarmos a coerência com o que somos para os outros, denunciamos a artificialidade da máscara. Tornamos o passado sujeito da revolução...permanente.


Bernstein, o revisionista da história oficial marxista, declarava que "o movimento é tudo; a meta final, nada". Tal como o autor das "Nourritures Terrestres" nos diz que "só no movimento posso achar equilíbrio". A frase é uma boa estocada retórica porque nos faz pensar imediatamente na imagem da bicicleta. Se pararmos, cai. Mas é o próprio Gide que nos alerta para a fatalidade presente neste movimento. Desencadeamos uma acção simplesmente porque nos atrai e, por isso, é como se disséssemos que não é nossa a responsabilidade. Que a atracção é a verdadeira iniciadora da história e que essa força ultrapassa o indivíduo que responde como a um magneto.

Esse magneto, nos nossos tempos, é uma rede de induções aparentemente autónomas que cobre todo o território. A atracção resulta na actual sociedade mediática que nos faz pensar por procuração.

 

 

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