sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

MURCHAR VERDADE ADENTRO

 

"Aquele que conhece o poder da dança reside em Deus."

(Mualāna Jalāluddīn Rūmī, poeta persa, citado por Ernst Cassirer)

 

É a uma espécie de harmonia entre o corpo (mas não o da dicotomia corpo/espírito) e o universo que se alude neste pensamento. Podíamos chamar-lhe a graça da juventude (num sentido extenso). Mas que não é a vida toda. Por que haveriam as diferentes idades cair fora dessa harmonia? Sem dúvida, o 'corpo' conhece uma harmonia mais secreta.

Yeats acaba o seu belo poema "Coming of Wisdom with Time", depois de celebrar o gozoso movimento da copa que o vento sacode, o tempo dançante da graça divina, com um "Now, I may wither into the truth" (agora, posso murchar verdade adentro - perdoe-se a canhestra tradução). A tradição moral quer ver neste mirrar do corpo o fim de um movimento feliz, mas enganoso. A árvore deve secar no fim do seu ciclo de vida. A sabedoria (wisdom) vem de mão-dada com a tristeza das flores murchas e mirradas.

O poeta irlandês, a esse novo estado, depois das ilusões, chama de verdade. Mas, talvez, o momento em que 'morrem as flores' seja o mais ilusório de todos...

 

 

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