domingo, 16 de outubro de 2011

O AMBICIOSO




“’Tu não compreendes por que é que digo isto’, continuou, ‘ mas é toda a história da vida. Tu falas de Bonaparte e da sua carreira’ (embora Pierre não tivesse mencionado Bonaparte), ‘mas Bonaparte quando meteu mãos à obra foi passo a passo em direcção ao seu objectivo. Era livre, só tinha o seu alvo a considerar, e alcançou-o. Mas amarra-te a uma mulher e, como um condenado em ferros, perdes toda a liberdade! E tudo o que tens de esperança e força apenas te enterra mais e te atormenta de desgosto. Salões, tagarelice, bailes, vaidade, e trivialidade – é este o meu círculo encantado a que não posso escapar.”

“Guerra e Paz”  (leão Tolstoi)




A paixão do Príncipe André é a ambição. Por isso faz aquele requisitório contra as mulheres e o casamento. As que encontra nos salões, como o de Anna Pavlovna, "interessam-se" pela política e pelos "grandes temas", na medida em que isso atrai os seus convidados. É um aperitivo a somar às bebidas e aos pratos extravagantes. Lise, a sua mulher-criança só se encontra bem nesse meio de intrigas e de frivolidade. Quando se nasceu príncipe e tão próximo do poder, que resta ao ambicioso? Napoleão foi a sua grande oportunidade. Combatê-lo em Austerlitz e Borodino, era muito mais do que um dever patriótico. Era a razão da sua vida. Daí toda crueldade para com Lise e a sua fria incompreensão.

Mas, apesar de tudo, ficamos com a impressão de que ele é a alma mais nobre do romance. Porquê?
Talvez porque nele, aquilo que mais o distingue do seu amigo Pierre (que tem tantos traços do próprio Tolstoi), a força de vontade, faz dele uma espécie de herói.

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