terça-feira, 18 de outubro de 2011

AS SOMBRAS


Quíron, Aquiles, Peleu e Atenas


"Hoje
nada sei. Correm em mim os mortos, como água –
com o murmúrio gelado da sua incalculável ausência."


"A colher na boca" (Herberto Helder)




Incalculável ausência porque nenhuma memória, nenhuma fidelidade ou culto algum são "reais" ou se passam no que chamamos de Natureza.

Saul Bellow disse (em "Ravelstein") que não se podia pensar em Deus, "sem trazer à baila os nossos mortos". E a verdade é que a "presença" divina é o contraponto daquela ausência incalculável. Não temos melhor exemplo da realidade do espírito do que o modo como somos afectados pelos mortos.

Sem esse mundo de "sombras", que Aquiles trocava por viver a vida de um escravo, poderíamos medir tudo e todas as distâncias. Porque esse seria apenas um mundo de coisas.

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