quarta-feira, 26 de março de 2008

SABER OU NÃO SABER


Nonika Galinea (Jocasta) & Atendants

"Uma série de incitações me veio do complexo de Édipo, do qual reconheci pouco a pouco a ubiquidade. A escolha, mesmo a criação do tema sinistro, sempre parecia ter sido um enigma, tal como a sua acção dilacerante sobre os espectadores do drama antigo tirado dele, assim como a essência da tragédia do destino em geral: tudo isso se explicava compreendendo que uma lei da vida psíquica tinha sido apreendida na sua plena importância afectiva. A fatalidade e o oráculo não eram mais do que a materialização da necessidade interna; o facto de que o herói pecava sem o saber e contra a sua intenção constituía a justa expressão da natureza inconsciente das suas aspirações criminosas."

"Ma vie et la Psychanalyse" (Sigmund Freud)


Ninguém fez mais por esta segunda vida dos mitos clássicos do que o criador da psicanálise.

Como diz Sudhir Kakar, os heróis do Mahabharata estão muito mais presentes, ainda hoje, na cultura dos indianos do que os heróis de Homero na nossa. Estes estão connosco como uma ou outra coluna do templo pagão se encontra prisioneira na nave cristã.

E claro que Édipo, no caso de Freud, é um sinal de quase desforra do paganismo.

Através do mito, são as caves da alma que o espeleólogo analista explora sem medo de encontrar a mais remota imagem de Deus.

Mas o preconceito religioso, como não podia deixar de ser, foi substituído por uma espécie de força oculta que é essa necessidade interna resultante do conflito entre o desejo e a Lei, reflectida na consciência e na vontade.

E o que Freud nos diz é que Jocasta teria sido desejada ( e esse desejo, evidentemente, censurado), mesmo se Édipo soubesse quem era. Se se impugnar essa premissa, o complexo cai pela base.

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