segunda-feira, 17 de março de 2008

A CIÊNCIA NÃO PENSA



"Muitas vezes se glosou a afirmação de Heidegger segundo a qual "a ciência não pensa", tão ocupada que está em contar, medir ou manipular. Bem ingénuo seria o filósofo que se julgasse por isso engrandecido, ele que não sabe contar nem medir, e que tão desajeitado é! (...) Não, explica Heidegger, a ciência tem "qualquer coisa a ver com o pensamento" e este faria mal em ignorá-la, como perderia em desprezar a poesia."

"Le Penseur, L'Écrivain et le Philosophe" par Jean-Michel Besnier


Sem a poesia, que se abre ao domínio do corpo e do pré-conceptual, a filosofia corre o risco de se cingir à lógica. E a lógica é independente do mundo. É como se batêssemos no sino e nos ouvíssemos a nós mesmos dentro dele.

A ciência faz entrar o mundo e obriga aos desenvolvimentos lógicos, mantendo a filosofia afastada da literatura.

Mas há talvez um momento crítico em que o sistema da Ciência absorve o mundo e se torna independente dele.

Daí a actualidade cada vez maior da metafísica, que é uma tentativa de superar a lógica.

"Certamente que o pensamento é frágil, e Heidegger enumera as quatro razões seguintes:

"1º Não conduz a um saber como o das ciências;

2º Não traz uma sabedoria útil à condução da vida;

3º Não resolve nenhum enigma do mundo;

4º Não granjeia imediatamente forças para a acção." (ibidem)

Assim, para Heidegger, a filosofia caracteriza-se por um saber sem valor prático, nem heurístico. Significativamente, admite que possa inspirar a acção. Mas trata-se de um princípio de acção que nada deve à utilidade, nem à sabedoria. E aqui se reconhece a sua dívida para com Nietzsche.

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