terça-feira, 12 de junho de 2007

UM CABELEIREIRO DE QUALIDADE



"A emigração, a ruína de muitos que não emigravam tinham atirado para a rua uma quantidade de criadagem, de gente ligada aos nobres, aos ricos, a vários títulos, agentes da moda, do luxo, da diversão, da libertinagem. A primeira corporação do género, os cabeleireiros, estava como que aniquilada. Florescera durante mais de um século, pela bizarria das modas. Mas a terrível palavra da época, "regressai à natureza", matara estes artistas, cabeleireiros e cabeleireiras; tudo se orientava para uma simplicidade assustadora."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


Uma das maiores tragédias da Revolução, a matança do Campo de Marte, de 17 de Julho de 1791, começou por uma inconsequência de um desses artistas no desemprego que, mais um companheiro, se escondeu sob as tábuas do altar da Pátria para espreitar as pernas das mulheres na cerimónia no dia seguinte. Foram denunciados e arrastados pela multidão. Primeiro, viram nisso um ultraje ao sexo, mas depressa correu o boato de que o que pretendiam era fazer ir pelos ares a tribuna. Acabaram degolados pela turba enfurecida.

A anedota muda muitas vezes de registo no palco da vida, como se um todo poderoso encenador, sem se preocupar com a coerência, mudasse o cenário da peça sem informar os actores.

A corporação dos cabeleireiros era povo pelo nascimento, mas dependia em tudo da aristocracia. Como o homem é aquilo que faz, na Revolução, encontrava-se dividida e desmoralizada.

Naquela ocasião forneceu a mecha no paiol.

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