quarta-feira, 20 de junho de 2007

A LOUCA DA CASA


Santa Teresa de Ávila (1515/1582)


"E, no entanto, tal como a compaixão pela infelicidade não será talvez muito exacta porque através da imaginação, nós recriamos toda uma dor sobre a qual o infeliz, obrigado a lutar contra ela, não pensa enternecer-se, também a maldade não terá provavelmente na alma do mau essa pura e voluptuosa crueldade que nos faz tão mal ao imaginá-la. O ódio pode inspirá-la, a cólera dar-lhe um ardor, uma actividade que nada tem de feliz: era preciso o sadismo para extrair prazer dela, o mau acredita que é a um mau que faz sofrer."

"Le côté de Guermantes" (Marcel Proust)


Este texto podia ser a glosa de uma sentença cartesiana contra a imaginação.

Sofrendo na retaguarda o trabalho de "la loca de la casa", como lhe chamou Santa Teresa de Ávila, temos tempo de aumentar o mal pensando ociosamente nele, coisa de que a acção nos liberta por nem nos deixar o tempo de pensar.

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