quarta-feira, 20 de junho de 2007

A REVOLUÇÃO DO ABSTRACTO


Kandinsky: "Composição VII"


"Comecei por ficar interdito, depois dirigi-me rapidamente para esse quadro misterioso (no qual via apenas formas e cores cujo tema era incompreensível). Depressa descobri a chave do enigma: era um dos meus quadros que estava apoiado de lado."

"Kandinsky, citado por José Gil em "A Imagem-Nua e as Pequenas Percepções"


O que teria sido preciso para um pintor da Renascença ficar intrigado com tão pouco? Que paisagem ou retrato, poisado de lado, abriria assim as veias ao sentido? Kandinsky, de facto, já procurava qualquer coisa fora dos cânones.

Aquele seria um dos "acontecimentos e dos gestos fundadores da pintura abstracta".

Podemos dizer então que a arte nesse momento se separou da intencionalidade. Um quadro poisado de lado, ou do avesso, abria todo um mundo de formas e de cores que, apesar de "incompreensível", não se encontrava na natureza.

Quando olhamos as manchas de humidade numa parede, ou a caprichosa formação das nuvens, parece-nos ver aí alguma figuração que é fruto do acaso e da antecipação da nossa "leitura".

O mundo "concreto" (por oposição ao da pintura abstracta) era um mundo fechado, onde só os objectos da nossa percepção ou da nossa imaginação tinham sentido. Naquela encruzilhada, entrámos no que José Gil chama de pré-percepção, num mundo entre o caos e a ordem.

É impressionante como nesse princípio do século, a pintura dava um passo para fora do antropocentrismo, tal como a ciência o acabava de dar com a teoria da relatividade.

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