sábado, 23 de junho de 2007

QUESTÕES DE PESO


Roger Debray

"A primeira revolução de todos os valores relaciona-se, assim, com a dimensão dos pesos. Esta inversão dos valores, como o explica Debray numa interpretação estimulante, tem como primeiras vítimas os pesados deuses dos Egípcios cuja imobilidade petrificada os impede de partir em viagem - e à cabeça deles Amon, "o pesado deus do Estado", como lhe chamava Thomas Mann. Se o povo de Israel pôde, a partir de então, transformar-se numa entidade teofórica, literalmente omnia sua secum portans, foi porque tinha conseguido transcodificar Deus, fazê-lo passar do medium da pedra ao do pergaminho (...)"

"Derrida, un Égyptien" (Peter Sloterdijk)


A interpretação "estimulante" de Roger Debray que, em vez de se interrogar sobre a natureza de Deus, seguiu os vestígios das grandes religiões, as pisadas deixadas na areia do deserto ou nas margens dos rios sagrados, dos monumentos aos documentos, pode dizer-nos alguma coisa sobre o espírito vivo?

Alguma vez estará ao nosso alcance, a partir das condições materiais, da dieta de um povo, da sua errância no espaço físico, estabelecer mais do que uma probabilidade?

Mas a abordagem de Debray parece tão original que nos escapa aquilo que a sua teoria mediológica deve ao materialismo tout court.

Confesso que o facto da "portabilidade" das religiões do Livro poder explicar em parte a sua disseminação pelo planeta e a sua congenialidade com a "revolução permanente" e o expansionismo do sistema técnico-económico do Ocidente, me deixa no umbral da compreensão.

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