segunda-feira, 11 de junho de 2007

O ARCO RETESADO


Cabeça de Amásis


"Eis como ele tratava os assuntos: desde o despontar do dia até à hora em que o mercado se enche de gente, dedicava-se a julgar as causas que se apresentassem. O resto do tempo passava-o à mesa onde troçava dos seus convivas e só pensava em divertir-se e em fazer partidas engenhosas e indecentes. Os seus amigos, consternados por uma tal conduta, objectaram: "Ó rei, disseram-lhe, tu não sabes manter a honra do teu estatuto e torna-lo vil. Sentado com dignidade sobre o teu trono, devias ocupar-te todo o dia dos cuidados do Estado."

Mas Amásis, o faraó, respondeu-lhes:

"Não sabeis que só se retesa o arco quando dele temos necessidade e que, depois de nos termos servido dele, o distendemos? Se estivesse sempre tenso, partir-se-ia e já não nos poderíamos servir dele quando fosse preciso."

"Histórias" (Heródoto)


Este belo exemplo de sabedoria cessa de ter pertinência se pensarmos em rentabilidade a curto prazo e a todo o custo.

Substituindo os homens pelas máquinas, precisaremos cada vez menos de "distender o arco".

Mas há uma outra visão, essa sim indefensável, que pretende tratar os homens como máquinas, desde que o "arco" não se parta nas mãos de quem o retesa o tempo todo.

Veja-se como tantos jovens, no seu emprego precário, têm de obedecer à "norma da casa": " - Aqui há horas de entrada, mas não há horas de saída!"

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