segunda-feira, 11 de junho de 2007

DESIGUALDADES


Karl Marx (1818/1883)


"Se a abundância e a superabundância eram os fins originais do sonho marxista de uma sociedade sem classes, baseada no excedente natural do trabalho humano - isto é, no facto de o trabalho estimulado pelas necessidades humanas produzir sempre mais que o necessário à subsistência individual do trabalhador e à subsistência da sua família -, então estamos hoje a viver a realidade do sonho socialista e comunista, ressalvado o facto de esse sonho se ter realizado, ultrapassando a fantasia mais extrema do seu autor, por meio do progresso tecnológico cujo último estádio é provisoriamente a automação. O nobre sonho transformou-se assim em qualquer coisa que se parece muito com um pesadelo."

"Responsabilidade e Juízo" (Hannah Arendt)


De um ponto de vista económico parece ser assim: as relações de produção, de facto, não entravaram o desenvolvimento das forças produtivas, como augurava Marx (resta saber até que ponto esse desenvolvimento está, pelo contrário, na razão directa dessas relações).

E o resultado, a abundância de que fala Hannah Arendt, mesmo tão desigualmente distribuída, talvez permitisse, nalgumas sociedades, pelo menos em teoria, satisfazer o lema "de cada um segundo as suas capacidades, a cada um conforme as suas necessidades."

Mas contra essa ideia, levantam-se desde logo as chamadas questões de definição.

É evidente que as necessidades são, hoje em dia, nalgumas sociedades, cada vez menos naturais e definidas, cada vez mais, pelas estratégias de produção e de distribuição de bens artificiais. A própria noção de trabalho deixou de caber no enquadramento clássico da criação de mais-valia.

O certo é que a desigualdade tem um ponto crítico e este é muito menos económico do que político.

Em nome da justiça, que se invoca para acabar com a desigualdade no próprio plano económico, não se pode, porém, atrair uma injustiça maior representada por uma mais decisiva desigualdade no plano político.

De certo modo, embora se tenha de reconhecer que a força mais revolucionária seja a tecnologia, há um ponto cego na luta pela igualdade, em todos os domínios, que favorece o progresso.

Porque a economia não pode ser um mundo "natural", onde domina o mais forte e o mais apto.

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