Henry James em Talland House, 1894
Uma das mais extraordinárias novelas que conheço é "A fera na selva" de Henry James.
May Bartram seduz John Marcher como uma parca (embora o autor não o diga, parece que não teria podido seduzi-lo fisicamente), inspirando-lhe o segredo de que ele já se tinha esquecido "de estar destinado a qualquer coisa rara e estranha, talvez prodigiosa e terrível, que mais tarde ou mais cedo viria ao seu encontro."
Ele confessara-lhe essa crença, num encontro sem consequências, em Nápoles. Quando se reconhecem, dez anos depois, em Weatherend, ela fá-lo recordar esse segredo.
A partir daí a sua vida torna-se realmente mais interessante, sem que qualquer deles admita pelo outro um sentimento mais forte do que essa amizade, da parte dele oportunística.
Quando May morre alguns anos depois, a fera ataca-o no cemitério, diante do espectáculo da dor dum desconhecido que, na campa ao lado, chora a sua companheira.
"A paixão nunca o tocara, pois era isto que a paixão significava; sobrevivera balbuciando e lamentando-se, mas onde estavam as chagas da dor? A coisa extraordinária de que falamos foi a descoberta repentina da resposta a esta pergunta."
May alimentara-o, na sua própria espera, com a imagem de si próprio, mas, na sua aridez, ele não precisava de mais nada.
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