quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ENTRE DOIS MUNDOS

S. Tomás de Aquino (1225/1274)


“Não saber não era uma fonte de frustração. Como Tomás (S. Tomás de Aquino) indica, as pessoas podem sentir alegria nesta subversão dos seus poderes de raciocínio. Tomás não esperava que os seus estudantes ‘acreditassem’ em Deus; ele ainda usa credere para significar confiança e compromisso e define a fé como ‘ a capacidade do intelecto para reconhecer (assentire) a genuinidade do transcendente; para ver além da superfície da vida e apreender a dimensão sagrada que é tão real – na verdade, mais real – do quer que seja na nossa experiência. Este ‘assentimento’ não significa submissão intelectual: o verbo assentire quer dizer também ‘rejubilar em’ e estava relacionado com assensio (‘aplauso’).

“The Case for God” (Karen Armstrong)



Se soubermos que não sabemos, não saber pode não ser uma frustração. Há este passo em S. Tomás da insegurança dum mundo, na realidade, desconhecido, para a confiança e o compromisso (o credere) que está na nossa natureza por já termos sido crianças. A imagem do Pai Celeste corresponde a essa recorrente imaturidade.

Claro que podemos sair desse estado de infância prolongada através da criação dum mundo artificial que seja só nosso e que, em princípio, conhecemos por que o fizemos. A história da ciência é uma construção, pedra a pedra do novo templo, dum outro cosmos cujas leis vamos descobrindo à medida que estamos preparados para formular novos problemas.

Estamos também envolvidos nesse mundo e nele temos toda a confiança necessária para a nossa existência. Já não cremos em Deus ( de quem nada sabíamos nem podíamos saber), em vez disso, cremos em nós mesmos.

O conhece-te a ti próprio de Sócrates foi o início dessa viagem para fora do desconhecido e para dentro do mundo artificial. Só que ele dizia que nada sabia…

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